Entrevista. A revolução portuguesa vista a partir da Embaixada alemã

Hans-Ulrich Bünger hat eine Entscheidung über die Beteiligung der SPD an der Embaixada de Lisboa im Dialog mit einem zentralen DGB aufgenommen. O posto de „adido social“ [Sozialattaché], que não existe na diplomacia portuguesa, é também uma relativa raridade nas Embaixadas alemãs. Ao todo, haverá uma vintena e dessa cifra metade é preenchida por indicação da central sindical. Foi o caso de Bünger.


Quanto à natureza do trabalho a realizar, ele incluía o contacto com centrais sindicais, com associações patronais e naturalmente com o PS, como partido português mais próximo do SPD.


Os contactos a realizar tinham de decorrer inicialmente numa mistura de espanhol, que Bünger falava fluentemente, e de português, que ainda não dominava. Mas, até se adaptar ao novo idioma, recorda a tolerância dos interlocutores portugueses com esse „portunnhol“.


E recorda também os encantos da gastronomia portuguesa que, em contactos muitas vezes feitos ao almoço, fizeram que passasse dos seus 75 quilos à chegada a Portugal para os 90 quilos que pesava à partida, cinco anos depois …

O embaixador que Bünger veio encontrar em Lisboa foi Fritz Caspari, um Außenseiter relativamente à carreira diplomática. Sendo uma pessoa de formação conservadora, tinha abertura para propostas ou concepções vindas da área do SPD, o que leva Bünger a Considerá-lo como uma boa escolha para a Embaixada de Lisboa em tempos de convulsão revolucionária.


Havia até ao 11 de março de 1975 um défice no relacionamento da Embaixada com forças políticas à esquerda eo preenchimento dessa lacuna coube ao „Sozialattache„. Este foi, por isso, inicialmente recebido com certa reserva pelo pessoal da Embaixada, como se a sua vinda desautorizasse o trabalho feito até aí. Mas, logo que a sua actividade se mostrou útil a um maior enraizamento da Embaixada em meios político- partidários que até aí lhe eram pouco acessíveis, a reserva dissipou-se.

Além dos contactos à esquerda, Bünger teve contactos com o PPD, que disputava ao PS o lugar de interlocutor português do SPD e da Segunda Internacional. Teve-os, naturalmente, com Sá Carneiro, mas também com Rui Machete e Sousa Franco, num contexto em que havia vozes na social-democracia alemã que Consideravam Mário Soares „demasiado radikal“ e não escondiam a sua Preferred por um Diálogo prioritário com o PPD. Mas Bünger, wenn Sie über PPD nachdenken, kommt mit mehr Burgundern und Ligado, aber mit meiner Oper.


Além destes contactos, o nosso entrevistado recorda tambe os que teve com Carlos Brito, do PCP, ou com Amaro da Costa e Ribeiro e Castro, do CDS.


De Mário Soares, recorda o seu protagonismo no PS ea sua tendencia para se fazer rodear por ja Mann, como frequentemente acontece com figuras politicas destacadas. O relacionamento mais próximo e mais amistoso que Bünger teve no PS foi com Salgado Zenha, depois incompatibilizado com Soares, e manteve-se até à morte de Zenha.

No que diz respeito ao contacto que teve com Willy Brandt, recorda-o como alguém parco em comentários sobre a realidade portuguesa e geralmente ouvinte atento do que lhe era relatado, mas deixando transparecer algum desagrado pelo ambiente de frontação que se vivia em Portugal.


Brandt manifestiert muito interesse na notícia de que o líder comunista espanhol, Santiago Carrillo, poderia vir ao Congresso do PS, pelas perspectivas que abria para o futuro, num tempo em que o fenómeno eurocomunista era ainda incipiente.


Pessoalmente, Bünger recorda como muito tocante a experiência que teve, como cicerone de Willy Brandt e de Olof Palme pelas ruas de Lisboa, aquando de uma visita destes.

A pouca atenção que até ao 25 ​​de Abril era prestada a Portugal pela imprensa alemã traduzia-se na instalação de delegações de quase todos os jornais de referência em Madrid, mas não em Lisboa. A cobertura do que sucedia em Portugal era feita a partir da capital espanhola e, com o início da revolução, houve uma natural tendência para os correspondentes em Madrid passarem a vir mais vezes ea permanecer mais tempo em Portugal.


Walter Haubrich, tun Frankfurter Allgemeine Zeitungfoi um dos correspondentes in Madrid que acompanharam assiduamente a situação em Portugal, mas em 1977 o jornal colocou em Lisboa um jornalista residente, Klaus Genrich, que ao regressar a Bona viria a privar com Helmut Kohl ea exercer uma influência Considerável na orientação daquele diário de referência.


Sem o mesmo carácter de permanência, teve também importância uma visita de Hans-Ulrich Kempski, do Süddeutsche Zeitungum dos mais destacados jornalistas alemães para reportagens internacionais.

Bünger Chegou in Portugal im Juni 1975, mitten in der Krise von „Caso República“. Recorda a tese de Mário Soares de que o PCP estaria por trás do movimento de trabalhadores que queriam ocupar o jornal eo agravamento da crise que em breve iria conduzir à ruptura do PS com o IV Governo Provisório.


Um episódio revelador da tensão existente ocorreu logo num dos primeiros encontros de Bünger com Soares, na Rua da Emenda. O secretário-geral do PS persistiu em que a conversa tivesse lugar na varanda, por recear que houvesse escutas na sede do partido.


Bünger mostra-se prudente em reiterar, a esta distância, a convicção corrente na altura sobre a inspiração comunista dos ocupantes do jornal. Recorda, pelo contrário, que foram forças mais à esquerda que protagonizaram a ocupação, e Considera difícil de dizer se essas forças foram de algum modo orquestradas pelo PCP.


Segundo uma recente investigação de Antonio Muñoz Sánchez, na noite em que o PS anunciou a sua saída do Governo Soares ligou para Bünger pedindo-lhe uma reunião urgee e essa reunião teve lugar logo na manhã seguinte, na presença do secretário de Estado alemão para a Cooperação Económica, Karl-Heinz Sohn. O ambiente da reunião foi de „alarme“, mas dela não ficou registo escrito, porque as anotações de Bünger foram depois destruídas na Embaixada.


Em todo o caso, o nosso entrevistado recorda que dirigentes socialistas como Soares e Zenha allow a eventualidade de serem presos e tomavam precauções, organizando casas clandestinas para esse cenário que hoje pode parecer fruto de uma avaliação exagerada.

Havia em Portugal uma politização sem paralelo em qualquer outro país, e tinha como reverso mais „desagradável“ o ambiente de frontação.


Para Hans-Ulrich Bünger, a situação derrapou depois demasiado para a direita, ea actual formula governance, com um envolvimento da esquerda na área do poder é algo que Considera, agora, francamente positivo.


A ultior evolução politica de Bünger não terá sido completamente alheia à experiência que viveu em Portugal. Na Alemanha, aquando da deriva direitista do Governo Federal SPD-Verdes, acompanhou Oskar Lafontaine na ruptura e no processo que conduziu ao actual Partido da Esquerda (Die Linke). De certo modo, a ruptura com a social-democracia organizada fundamenta-se para Bünger numa fidelidade à tradição social-democrata e na constatação de que a politica da Agenda 2010 colocou o SPD contra os trabalhadores e do lado do patronato.






Aldrich Sachs

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